quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Moderno é Ser Sócio-ambientalista

03 AGOSTO 2010

Tem muita gente que se acha moderna

Saudades de Berlim                         
Juremir Machado da Silva*
Eu já morei em Berlim. Estou com saudades. Meu amigo Erick Felinto casou-se com a Fernanda e está por lá. Tuitou esta informação: "Fecharam a Kudamm e a Kantstrasse e o pessoal está correndo nas ruas de noite... Muito legal". Aqui, à noite, nas ruas, corre-se de ladrão e da Polícia. A Europa devastou suas florestas, construiu grandes cidades, bancou guerras e, por experiência, redescobriu a necessidade de devolver às cidades aos seus habitantes. Nos meus vários anos no Velho Continente, algo sempre me chamou a atenção: aquilo que era considerado ultrapassado aqui, era moderno lá - trens, bicicletas, piqueniques, vestidinhos confortáveis para as mulheres, nada de tudo colante, sapatos baixos, silêncio, preferência ao pedestre, médico de família, o Estado a serviço de todos os cidadãos, greves, etc.

A nossa modernidade é a pré-modernidade dos europeus: construir arranha-céus à beira dos rios, devastar a natureza, privilegiar os automóveis, estado mínimo, cidades cada vez maiores, os negócios acima de tudo, de qualquer limite, do interesse público. Dado que a Europa praticou tudo o que agora condena, queremos ter o direito de fazer o mesmo. Em lugar de aprender com o passado dos outros, desejamos repetir os erros dos outros para assegurar a fortuna de alguns às custas dos demais. Moderno hoje não é fazer condomínio de luxo nas poucas áreas verdes privilegiadas que restam em cidades como Porto Alegre. Moderno é ser ecologista. Tem muita gente que se acha moderna e, por isso, torce o nariz para bicicletas quando está por aqui, mas, ao chegar em Paris, acha lindo passear romanticamente sobre duas rodas.

Em nossas cidades, o carro é rei. Os muito ricos vão morar cada vez mais longe, paradoxalmente, para se ver livres das áreas de maior circulação, ficando escravos dos seus veículos cada vez mais caros e estilosos. Degradam as zonas centrais e viajam todo dia para encontrar o que ainda resta de natureza. A regra simples: amam a natureza, desde que isso não atrapalhe os negócios. É a vanguarda do pré-capitalismo. Um atraso. Rentável. É gente que se acha moderna por pilotar veículos altamente poluentes e inúteis e por ganhar muito dinheiro tentando imitar a estética brega de Dubai ou de Miami. Nenhuma obra arquitetônica tornará as áreas verdes, na Capital gaúcha, mais belas do que elas são ao natural. Porto Alegre será muito moderna se conseguir preservá-las e transformá-las em lugares para se correr à noite. Ser moderno é ter transporte coletivo de qualidade. A modernidade começa com metrô subterrâneo.

A modernidade prossegue com trens de grande velocidade, com transporte ferroviário de mercadorias e com executivos indo trabalhar de bicicleta. Porto Alegre será moderna quando alguém puder correr à noite na Rua da Praia sem ser suspeito de coisa alguma. Antes da crise americana de 2008, a vanguarda do pré-capitalismo brasileiro adorava anunciar a falência da Europa. Alguns vibram agora com a crise grega, esperando que seja o começo do fim da Europa do Bem-Estar Social. Enquanto isso, nos Estados Unidos, Obama conseguiu finalmente modernizar a saúde dando proteção estatal aos cidadãos.
* Jornalista e escritor
Fonte: jornal Correio do Povo, 03/08/10
*as matérias publicadas são de responsabilidade dos autores.

Matéria 

MAIS UMA MONUMENTAL HIPOCRISIA - ÁGUA ELEMENTO VITAL !

Artigo de Ana Echevenguá.

02 de Agosto 2010

“O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes”Noam Chomsky
Atenção, muita ateeeenção! A Assembléia Geral da ONU - Organização das Nações Unidas - aprovou uma Resolução que diz que tanto o acesso à água potável como o acesso aos cuidados básicos de saúde são direitos humanos fundamentais.
Não é piada: to falando sério! Colocaram o óbvio no papel: se, sem beber água, você morre em 3 dias, o acesso à água é um direito vital.  Isso vai ficar catalogado na História dos Povos: um fato que ocorreu no Século XXI, após a Copa do Mundo de 2010.
Nossa!, quem fica sabendo disso - principalmente através da  imprensa - pensa que se trata de uma conquista magnânima! Coisa pra ser comemorada nos quatros cantos do Planeta.
Mas, segure as vuvuzelas, gente! A ONU fez mais um texto bonitinho, com o amém de 122 países. Estados Unidos, Austrália, Áustria, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Irlanda, Israel, Japão, Luxemburgo e Suécia ficaram em silêncio; não votaram. Mas, também, o voto positivo deles não ia mudar nada.
A humanidade ganhou mais um papel pra colocar na gaveta (ou no arquivo virtual). E pra gerar reuniões, eventos, discussões calorosas…
Lembrei agora que, na Rio+10, realizada na África do Sul, 190 países prometeram reduzir à metade, até 2015, a população sem água potável e sem saneamento; e a restaurarem os recursos pesqueiros. No mesmo ano, em 27 de novembro de 2002, o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU declarou que o acesso à água era um direito humano indispensável; que a água era um bem público, social e cultural, um produto fundamental para a vida e a saúde e não um produto básico de caráter econômico. E exigiu que os países adotassem planos de ação nacionais para garantia desse direito. Mas isso não foi uma Resolução; foi um “Comentário Geral”, ou seja, uma interpretação das disposições do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais2.
Nem Comentário Geral, nem Resolução vão ajudar a reduzir esses números… Regras como estas não obrigam ninguém a fazer nada: apenas pedem, sugerem, dão palpites… se não cumprir, fica tudo bem; não há castigo previsto em caso de descumprimento.
E qual a nossa realidade, segundo dados da ONU? 900 milhões de terráqueos vivem sem água boa de beber. E a água poluída mata, principalmente nos países pobres.
Enquanto a ONU brinca de criar regras, nossas crianças estão morrendo: a cada 3 segundos, morre uma criança de doença veiculada pela água poluída (dados da OMS - Organização Mundial da Saúde).
Isso não cabe debaixo do tapete! Vamos festejar o quê????
Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente da ONG Ambiental Acqua Bios e da Academia Livre das Águas.
(As opiniões dos artigos publicados no blog forumvital são de responsabilidade de seus autores.)
   matéria reproduzida por: Eduino de Mattos